Provavelmente você já deve ter ouvido falar sobre psicologia das cores, que é o estudo que busca compreender o comportamento humano em relação às cores e como elas nos afetam.
Em resumo, essa teoria surgiu a partir de um livro chamado “A psicologia das cores: como as cores afetam a emoção e a razão”, escrito por uma psicóloga e socióloga alemã chamada Eva Heller.
Foi a partir dessa obra que passaram a surgir diversas pesquisas em relação à mente humana e a nossa experiência ao observar uma determinada cor. Mas será que tudo isso faz sentido?
É fato que a psicologia das cores é um estudo científico, a questão é que o consenso popular acabou se apropriando dessa teoria.
A designer gráfica e sócia da trasso, Carol Tavares, afirma que “essas pesquisas são reais, as cores despertam sensações, mas não carregam um significado apenas por ser uma cor”.
Desmistificando as cores
As cores em si não têm significados. O que a gente cria são associações a partir de referências de mundo — que também divergem conforme a experiência de cada pessoa, o que sofre grande influência de onde ela mora, seu acesso à cultura, se é praticante de alguma religião etc.
Para desmistificar as cores e os estereótipos que elas carregam, é importante entender a diferença entre simbologia e psicologia.
A cor vermelha, por exemplo, pode comumente ter simbologias atribuídas a muitas coisas amor, fogo, guerra e até mesmo uma ideologia baseada numa organização socioeconômica. Sua interpretação vai depender do contexto e do receptor da imagem.
Contudo, quando pensamos nas cores a partir da ciência da psicologia, as reações podem ser, de certa forma, previstas.
Pense em um exemplo prático:
a luz amarela, por ser uma cor mais quente, geralmente é escolhida para iluminar cômodos que pedem por um ambiente mais aconchegante, indiscutivelmente, prevendo uma sensação de relaxamento. Ao mesmo tempo, dependendo de seu uso e contexto, essa mesma cor pode remeter a ideia de energia — contraditório, né?
Mas não é só o vermelho ou amarelo que podem “carregar diversos significados e sensações”. Aliás, resumir as cores a um significado, por exemplo, seria simplório.
Todas as relações que criamos, seja com cores ou outros elementos visuais, partem de repertório. Ao pensarmos na construção da paleta cromática de uma marca, não existe cor certa ou errada, mas sim movimentos estratégicos.
Podemos fazer uma relação direta a outras marcas do mercado ao utilizar uma cor em comum ou nos diferenciar ao nos distanciar do que geralmente é utilizado.
Estudo de caso
Se você pesquisar na internet pelo significado da cor roxa, encontrará diversas fontes falando sobre como ela está ligada ao mundo místico e a ideia de espiritualidade. Mas não é por isso que toda empresa que tem o roxo como identidade visual vai remeter a esse significado.
O Nubank, por exemplo, utiliza o roxo como uma forma de se destacar em relação às outras instituições financeiras do mercado, como um símbolo de ruptura. A cor ficou tão atrelada à marca que o Nubank passou a ser conhecido como “roxinho”. Ou seja, praticamente se tornou um símbolo aqui no Brasil.
Por isso é correto afirmar que a cor não é única. Aliás, ela depende de três principais elementos:
Hue → Matiz
Saturation → Saturação
Brightness → Brilho
Esses atributos caracterizam o modelo de cor HSB que, assim como o RGB, relaciona-se às cores luz. Quando falamos em matiz, nos referimos ao tipo de cor; enquanto a saturação se relaciona à “pureza” da cor e à quantidade de cinza que será visualizada; e o brilho definindo a iluminação.
Cores com muito brilho presente são mais vivas e podem remeter ao neon; cores com pouca saturação e brilho vão se agrupar em tonalidades pastel. Assim, entendemos que uma mesma cor pode ter diversas variações dentro do espectro cromático.
O azul-marinho poderá ter significados construídos bem distantes de uma tonalidade azul bebê.
É claro que existem exceções.
As cores semânticas, por exemplo, são aquelas que possuem um significado intrínseco para o usuário e funcionam como uma espécie de código universal na usabilidade de sistemas web e aplicativos: o vermelho remete a uma falha, enquanto o verde remete ao acerto e o amarelo a um aviso.
É interessante lembrarmos que estas cores (vermelho, amarelo e verde) já são utilizadas com os mesmos significados atribuídos em outras situações, como os semáforos de trânsito.
Estes códigos já são habituais ao usuário e nesse caso, mantê-los é muito mais fácil do que tentar criar novos, que poderão confundir o usuário.
Legenda: paleta sugerida para o sistema web de um cliente trasso, utilizando as cores da marca e outras que carregam significados universais, como o verde e o vermelho para sucesso e erro, respectivamente.
Processo de construção da identidade visual
No processo de criação de uma identidade visual — incluindo a escolha da paleta cromática — é importante levar em consideração que a ID é uma forma de comunicação. Portanto, ela não deve ser uma surpresa, deve ser uma construção.
Uma boa construção visual depende do posicionamento da marca, já que ele vai ser o norteador das estratégias de comunicação — além de ser importante para pesquisar como seus concorrentes se colocam no mercado e para se diferenciar deles.
O posicionamento também vai ajudar a entender quais aspectos visuais são importantes realçar. Por exemplo, uma startup precisa passar a ideia de modernidade e pode dialogar com tendências gráficas atuais.
Estudo de caso
A Umbra Network é uma aceleradora de projetos na Web3 que atua nos pilares de educação, tecnologia e consultoria. A escolha da paleta cromática, em complemento com outros itens da identidade visual, transmite a dualidade contrastante entre o moderno e antigo e a sensação de grandiosidade.
Confira o projeto completo.
Por isso é tão importante que a equipe de design responsável pelo projeto faça uma pesquisa minuciosa com o cliente, acompanhada de entrevistas, dinâmicas e, principalmente, participação das pessoas que lidam com a marca diariamente.
Assim, a identidade visual, de forma estratégica, vai ajudar a contar a história da marca — levando em consideração o foco da empresa, público-alvo, stakeholders. Reforçando que não há um caminho certo, mas sim o que faz sentido para a empresa, seu histórico e sua visão de futuro.
Se você chegou até aqui mas ainda tem dúvidas, seja sobre psicologia das cores ou qualquer outro tema relacionado, não tem problema! Entre em contato conosco ou deixe um comentário aqui mesmo no blog, vamos te responder o mais rápido possível.
Aproveite e confira em nosso portfólio outras identidades visuais desenvolvidas pela trasso.
Uma resposta
Muito bom! Vale demais a reflexão por desmistificar o significado óbvio das cores, trazendo outra camadas de interpretação contextuais.